No último dia 13 de fevereiro o governo do Sr. Lula, através do site do Partido-Estado – o PT -, emitiu uma nota de repúdio à agressão sofrida pelo presidente da “Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo” (APOGLBT), Alexandre Peixes, bem como ao assassinato de três travestis na cidade do Recife. Segundo a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, tais atitudes ferem os princípios básicos da Declaração dos Direitos Humanos.(...)(...)no dia 07 de fevereiro pp. completou-se um ano do brutal assassinato do menino João Hélio Fernandes de apenas 6 anos, quando o carro em que viajava em companhia da mãe e de uma irmã foi assaltado. Por cerca de 7 km João Hélio foi arrastado pelo asfalto preso ao cinto de segurança do carro durante 15 minutos, passando por 14 ruas, sob os gritos desesperados dos que viam a cena dantesca, ficando completamente dilacerado. Foi um dos crimes mais hediondos já ocorridos e que provocou grande comoção no país inteiro, e o que disseram as autoridades da Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República? NADA! Que nota de pesar emitiu o presidente da República à família? NENHUMA!(...)(...)nunca se ouviu ou leu qualquer nota de repúdio por parte desta Secretaria quando um policial da Brigada do Rio Grande do Sul foi degolado em praça pública por hordas de criminosos do MST que permanecem impunes até hoje. Tampouco mereceu tratamento de pesar o assassinato do segurança da fazenda Syngenta, Fábio Ferreira, morto com um tiro na cabeça pelos marginais do MST em Santa Tereza do Oeste no Paraná, em outubro do ano passado. Ao contrário, houve até homenagem na Câmara dos Deputados pela morte do militante do MST Valmir Mota de Oliveira, vulgo “Keno”, (não por coincidência, no mesmo dia em que aquela casa legislativa homenageava a “máquina de matar” Guevara) que morrera em confronto ao invadir a fazenda.(...)Estamos nos transformando num país sob o império das “minorias”, estas novas castas que sob os auspícios do próprio governo impõem padrões de comportamentos a toda uma sociedade estupidificada e silente: são os quilombolas, os “afro-descendentes”, os gays, as lésbicas, os sem-teto, sem-terra, sem-moral ou vergonha na cara, os narco-traficantes que determinam toque de recolher ou quando o comércio pode abrir as portas. Estamos nos transformando num país sem Lei, numa terra de ninguém onde vale mais quem grita mais alto.E o governo sem freios e amoral do sr. Luiz Inácio se condói com o assassinato de três travestis e algum vexame passado por um representante da casta gay, mas dorme tranqüilo com o assassinato de 50 mil brasileiros por ano pois, afinal o que são cinqüenta mil brasileiros senão mera estatística?Leia a matéria completa de Graça Salgueiro aqui.
Há quase oitenta anos o movimento revolucionário conseguiu definir o objetivo unificado dos seus esforços, o que desde então lhe permite obter sucesso crescente em ações estratégicas de escala mundial, passando por cima de suas inumeráveis divergências internas e até utilizando-as proveitosamente como instrumentos de camuflagem ou de adaptação à variedade das circunstâncias. Esse objetivo _ destruir a civilização do Ocidente _ foi delineado de maneira simultânea por três fontes independentes: o filósofo marxista húngaro Georg Lukacs, o líder comunista italiano Antonio Gramsci e os cientistas sociais da Escola de Frankfurt.
À medida que essas vozes se afirmavam como as mais influentes sobre a intelectualidade esquerdista, a consciência do objetivo se disseminava por todos os ramos do movimento revolucionário, preparando as grandes guerras culturais de agressão que eclodiriam a partir da década de 60 e que, indiferentes à queda da URSS, prosseguem até hoje com intensidade crescente, alcançando vitórias cada vez mais devastadoras, entre as quais a conquista de praticamente todo o establishment cultural, midiático e universitário norte-americano, a imposição de normas "politicamente corretas" ao vocabulário dos debates públicos em toda parte e a destruição das defesas culturais de quase todas as nações européias, colocando-as de joelhos ante a prepotência do inimigo. Em todos esses casos, o símbolo unificante por trás das forças prodigiosamente variadas utilizadas no ataque é sempre o mesmo: o ódio comum à civilização do Ocidente permite que os mais empedernidos machistas islâmicos marchem, nas ruas de Nova York e Paris, de mãos dadas com militantes gayzistas, feministas e abortistas que nos seus próprios países eles condenariam sumariamente à morte.
O fato de que a civilização odiada não seja um bloco homogêneo, mas um amálgama desnorteantemente confuso de correntes incompatíveis entre si, não perturba em nada os seus detratores nem torna menos certeira a sua pontaria. "Civilização ocidental", tal como eles a entendem, não é um conceito racionalmente definível, é um símbolo: basta mirar nessa direção e o que quer que esteja por perto será atingido pelo disparo. Símbolos existem precisamente para unificar os contrários: se você quer destruir a civilização ocidental, pode confortavelmente acusá-la de materialismo cientificista ou de teocratismo cristão, de expansionismo imperialista ou de autodissolução decadentista, de libertinismo obsceno ou de moralismo repressor. No mundo dos símbolos, como já notava o lobo da fábula, a água do rio corre nas duas direções.
Longe de mim a intenção de sugerir que o movimento revolucionário esteja investindo contra moinhos de vento. Ao contrário, quando se trata de dirigir movimentos de massa e coordenar uma multiplicidade de forças em combate, o símbolo é um guia mais eficiente para a ação do que os mais elaborados conceitos científicos. Estes, por sua própria natureza, só podem apreender frações abstrativas da experiência, não a realidade concreta. O símbolo, justamente por sintetizar aspectos contraditórios, dirige o olhar no rumo certo, identificando o alvo real mesmo quando não se tem dele uma compreensão conceitual clara, o que é precisamente o caso: a intelligentzia revolucionária não é capaz de dizer nada de coerente ou valioso quanto à civilização ocidental (ao contrário, os escritos esquerdistas borbulham de idiotices a esse respeito), mas consegue perfeitamente enxergar onde ela está e quais os pontos vulneráveis onde pode atingi-la com seus ataques. A entidade contra a qual se voltam é opaca e intelectualmente inapreensível, mas é real e presente o bastante para sentir a dureza dos golpes que a atingem.
Tão abrangente é a força unificadora do símbolo por trás da multiplicidade dos alvos, que até mesmo as culpas do próprio movimento revolucionário podem ser imputadas à sua vítima, permitindo descarregar sobre ela todo o ódio e o desprezo inconscientes que ele foi acumulando contra si mesmo ao longo de sua história de crimes e horrores. Não há um só esquerdista no mundo que se admita moralmente culpado pelo genocídio soviético, chinês ou cambojano. Quanto mais horror essas realidades lhe inspiram, mais monstruoso lhe parece o capitalismo ocidental. A imunidade à culpa é um dos traços definidores da mentalidade revolucionária, mas até o século XX esse traço só aparece de maneira localizada, limitado a grupos militantes bem definidos. Foi só a partir dos anos 60 que ela se disseminou entre massas inteiras da população, quando a imagem simbólica da vítima expiatória se tornou universalmente visível: das cavernas da Al-Qaeda até os campi universitários da Califórnia, do alto comando dos organismos internacionais até os bas-fonds dos clubes de sadomasoquismo, odiar o Ocidente é o salvo-conduto que garante a liberdade ilimitada de pecar e delinqüir sem culpas.
Canalizando contra esse alvo simbólico todas as culpas e ressentimentos da humanidade, o movimento revolucionário superou as limitações de um discurso ideológico que só apelava a parcelas específicas da população. Erigiu-se em administração global do ódio psicótico organizado. Foi um tremendo "salto qualitativo", como diria Mao Dzedong. Acompanhado da substituição da antiga estrutura partidária hierárquica pela nova organização flexível em "redes", ele aumentou a força de agressão psicológica do movimento ao ponto de torná-lo imune à revelação de seus crimes e de seus fracassos no campo econômico-social.
Não deixa de ser interessante observar que esse feito foi obra póstuma de pensadores que, em vida, pareciam deslocados das correntes dominantes do comunismo internacional. Em Moscou e Pequim, Lukacs, Gramsci e os frankfurtianos permaneceram longamente ignorados. Foram seus seguidores em Nova York e Paris que renovaram de alto a baixo o movimento revolucionário a partir dos anos 60, integrando na nova perspectiva até mesmo certas correntes de ressentimento que a velha ortodoxia comunista teria desprezado como anárquicas e pequeno-burguesas, como por exemplo o gayzismo ou o movimento pela liberação das drogas. Nessa perspectiva, a queda da URSS, longe de poder ser considerada uma derrota, foi mesmo um sacrifício necessário para o revigoramento geral do organismo revolucionário. A revolução na revolução, como a chamou Régis Débray, realizou-se por meios que o próprio Débray, na ocasião, não podia imaginar.
Mas o que é mais importante observar, nessa ordem de estudos, é que, se a unificação do alvo simbólico foi o princípio do upgrade revolucionário, nada de semelhante se observa no campo oposto. Por toda parte, a reação conservadora (no Brasil às vezes chamada de “liberal”) continua dispersa e fragmentária, voltando-se contra alvos parciais e contraditórios por trás dos quais não se vislumbra o menor sinal de uma identidade, muito menos a imagem radiante de um símbolo unificador. Ao contrário, parece mesmo haver da parte dos conservadores uma recusa ou temor de perceber a face unitária do inimigo sob suas manifestações variadas. Na recente “guerra contra o terrorismo”, por exemplo, as autoridades norte-americanas insistem em apontar o radicalismo islâmico como um fenômeno singular e sui generis , não só amputado de suas mais patentes raízes históricas no movimento comunista que o preparou e gerou ponto por ponto, mas separado até mesmo das suas conexões atuais com a esquerda mundial e com os governos da China e da Rússia sem cujo apoio ele não seria nada.
Quando falam da América Latina, os políticos de Washington se referem a Hugo Chávez e Evo Morales como se fossem casos excepcionais e isolados, e não peças integrantes da grande máquina revolucionária do Foro de São Paulo. Chegam ao cúmulo de imaginar que Lula _ o próprio idealizador e fundador do Foro _ seja a melhor “alternativa democrática” contra os planos de dominação continental do ditador venezuelano. E, fazendo-se propositadamente cegos ante a perfeita continuidade entre comunismo e chavismo, mil vezes reafirmada pelas assembléias do Foro de São Paulo, apelam ao rótulo de “populismo” para evitar menções ao bom e velho marxismo-leninismo, ao qual assim garantem uma confortável reencarnação sob o manto do anonimato. Alguns fazem isso por ilusão triunfalista, porque gostam de imaginar que venceram a Guerra Fria e não podem admitir que travaram no máximo uma batalha, que a guerra continua em escala maior e mais complexa. Outros, como o próprio George W. Bush, caíram nessa porque foram treinados na escola “realista” de Hans Morgenthau e, raciocinando apenas em termos de poderes estatais, sem avaliar corretamente as linhas de força ideológicas que se superpõem às fronteiras nacionais, acreditaram ser possível unificar a esquerda e a direita americanas num combate patriótico contra um inimigo externo. Tornaram-se assim indefesos ante o inimigo interno que só se fingiu de seu aliado nas primeiras semanas depois do 11 de setembro para poder mais facilmente esfaqueá-los pelas costas nos anos que se seguiram (v. Kenneth Timmerman, Shadow Warriors. The Untold Story of Traitors, Saboteurs, and The Party of Surrender , New York, Crown Forum, 2007; assim como meu artigo sobre as eleições americanas na Digesto Econômico deste mês). Qualquer que seja o caso, o resultado é enfraquecimento e derrota.
Nem menciono, é claro, os antagonismos explícitos que corroem a direita por dentro, fazendo de algumas de suas facções instrumentos inconscientemente dóceis de uma estratégia adversária que transcende seu horizonte de visão. A cruzada de Pat Buchanan contra o livre comércio ou as investidas anti-religiosas do neo-ateísmo liberal são exemplos claríssimos de contradições internas que, na ausência de uma imagem unificada do inimigo a combater, não podem ser absorvidas numa estratégia geral e acabam servindo somente para debilitar o front conservador.
Ao longo de muitos artigos e conferências, tenho insistido na necessidade urgente de dar à reação conservadora um alvo unificado, uma imagem clara do inimigo a combater. Só isso permitirá absorver numa estratégia abrangente e funcional as múltiplas forças díspares que se agitam no seio da “direita”. Acredito que a noção do “movimento revolucionário”, no sentido em que a tenho elaborado em persistentes investigações e ilustrado inclusive em artigos neste jornal, fornece esse alvo unificado e tem ainda a vantagem de não ser somente _ como a “civilização ocidental” dos revolucionários _ o símbolo nebuloso de uma realidade opaca, mas uma estrutura perfeitamente identificável em termos intelectualmente rigorosos.
Só temo que meus esforços nesse sentido venham a ser tão bem aproveitados quanto o foram, no Brasil, as advertências que publiquei quanto ao Foro de São Paulo.por Olavo de Carvalho em 12 de fevereiro de 2008 © 2008 MidiaSemMascara.org